Mulheres da ADRA e instituições parceiras contra a violência baseada no género

14/12/2021 5:09 PM

Um grupo de mulheres da ADRA em Benguela e de instituições parceiras locais participaram, a 26 de Novembro, no 10º Encontro das Mulheres da ADRA Benguela e de Instituições Parceiras, no âmbito da Campanha de 16 Dias de Activismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.

Na ocasião, as participantes reflectiram sobre a situação económica da mulher no país e a violência doméstica, destacando os diferentes contextos em que a mulher em Angola tem sido vítima de violência tanto do género oposto como do “próprio Estado”, este por através da não garantia de direitos fundamentais.

O encontro, que contou com o financiamento da organização sueca Afrikagrupperna, teve a participação de 51 mulheres, entre quadros da ADRA em Benguela, membros de associações e cooperativas agropecuárias, empresárias, académicas, membros de organizações da sociedade civil e representantes de instituições do Estado.

A professora universitária Elsa Rodrigues, uma das prelectoras do evento, abordou, entre outros aspectos, sobre os tipos de violência em mulheres e meninas que mais predominam no contexto angolano, realçando a ligação e consequências das violências física e psicológica.

“Ao mesmo tempo que se exerce violência física, muitas vezes se exerce violência psicológica, e esta última se arrasta por muitos anos”, alertou.

De 50 de idade, Berta Suzana, uma das participantes do evento, falou da situação dos homens em relação à compreensão sobre o que é masculinidade e da necessidade de se trabalhar com homens e mulheres para que se elimine a violência contra a mulher.

Segundo ela, “há uma exigência tal sobre o que é ser homem, e quanto menos sabem, mais violento eles se tornam”.

Entre diversos testemunhos, as mulheres relataram situação de agressões físicas, patrimoniais e simbólicas, envolvendo relações de poder, abuso de autoridade e questões de feitiçaria, colocando mães e filhos em situações de extrema vulnerabilidade e precariedade.

“É um tema que me chocou muito, porque é uma realidade que eu vivo na família do meu falecido esposo. Depois do seu funeral, os familiares dele retiraram quase tudo que tínhamos e conquistamos juntos; eu até tenho um dos meninos de 15 anos que parece viver com trauma por causa desse teatro todo que viu".

Segundo esta participante, os familiares do esposo exigiam usufruir dos recursos do casal, alegando merecer por força do parentesco.

“Eles diziam que ele é nosso familiar, nós também temos que comer lá e eu dizia está bem. Eles também faziam ameaça de feitiçaria e eu tinha aquele medo de enfrentá-los. Para conseguirem todos os bens nos documentos colocaram a minha cunhada como segunda mulher”, revelou, em anonimato, a jovem mãe de 4 filhos.

Fruto das constatações, o fórum recomendou a todas as mulheres que sofrem violência doméstica a fazerem denúncias à esquadra da polícia mais próxima e a acompanharem o caso até ao julgamento e sentença.

O Encontro das Mulheres é realizado anualmente pela ADRA, nas suas diferentes estruturas, e constitui um espaço fundamental de reflexão sobre a situação das mulheres na Organização e no país.

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